Na vida de clérigo, entramos em contato com
muitas situações que causam sofrimento humano: enfermidades, luto, depressão,
solidão, abandono, crise matrimonial, crise financeira, dívidas impagáveis,
decepções profundas com amigos, etc.
Quando fui convidado a trazer uma palavra
para esta ocasião, me perguntei: O que dizer sobre câncer, sobre o outubro
Rosa?
Lembrei-me de uma palavra de Jesus,
encontrada no evangelho de João 10.10b “eu vim para que tenham vida e a tenham
em abundância”. Jesus disse esta palavra no contexto em que se apresentou como
o Bom Pastor. O Bom pastor que conhece, chama e cuida de suas ovelhas.
Assim como Jesus disse: Eu sou o Bom Pastor
que dou a vida pelas minhas ovelhas, assim também nos deu uma tarefa. Somos convidad@s [ou:
chamados/as] a promover vida em abundância. Promover a reflexão sobre essa
temática é promover vida em abundância.
Todo tipo de câncer põe a vida em abundância em risco. Que bom que
o movimento do Outubro Rosa, iniciado por mulheres nos EUA em 1990, espraiou-se
por todo mundo, sendo também acolhido no Brasil 12 anos depois (em 2002). Que
bom que as mulheres tomaram a iniciativa de propor um mês inteiro para refletir-se
sobre a temática do câncer de mama.
Isso me faz lembrar das palavras do papa
Francisco no seu livro Igreja da Misericórdia. Ele escreve que o pastor
(referindo-se às pessoas vocacionadas para o trabalho eclesiástico), a ser ver,
deve andar não apenas na frente do rebanho – para o conduzir; não apenas no
meio do rebanho – para auscultar seus anseios, perceber suas necessidades. O
pastor, segundo Francisco, deve também andar atrás do rebanho, para seguir o
seu rebanho que também auto-direciona seus passos, se movimenta inspirado pelo
Deus da Vida! A inspiração do Outubro Rosa nasceu desta inspiração brotada pelo
povo, pelo rebanho.
Sabemos que o câncer de mama afeta também os
homens. Parabéns a todas as pessoas que refletem sobre essa temática durante o
mês de outubro. Com isso oferece-se oportunidade para que todos, - mulheres e
homens- se conscientizem, reflitam, procurem assistência médica para um
possível diagnóstico sobre o que pode estar acontecendo com o seu corpo.
Fazer as pessoas parar sua correria do
dia-a-dia para focar no cuidado com o seu corpo é promover vida em abundância. O Outubro Rosa convoca toda a sociedade para o cuidado que nós precisamos ter com o
nosso corpo. A melhor forma de ter vida
em abundância é a prevenção, a precaução, o cuidado preventivo. Quanto mais
pessoas podermos motivar, envolver para pensar sobre a temática melhor, mais
pessoas – mulheres e homens - irão se cuidar. Uma sociedade só será mais justa
e fraterna se houver informação, educação e formação de qualidade.
Mas o que fazer se eu descubro que tenho um câncer?
Primeira coisa: não desesperar-se permanentemente. Inicialmente é quase
impossível não se desesperar. Confiar em
Deus acima de tudo, pois Ele tem poder de nos carregar nestes momentos.
Segundo lugar: Buscar ajuda especializada de
médicos e colaborar naquilo que que os médicos pedirem para ser feito.
Terceiro lugar: procurar cercar-se de pessoas
amigas que nos vão servir de suporte, que nos ajudam a caminhar nestes tempos
difíceis. Aliás, na vida necessitamos de nos cercar de pessoas que nos ajudam a
manter a nossa autoestima, a nossa autoconfiança e esperança.
Quem dera que os homens tivessem o cuidado
com a sua saúde, assim como as mulheres o tem. Fico a meditar e preocupado com
o número de mulheres viúvas que temos em nossas comunidades. Um desafio do
Outubro Rosa é, certamente, engajar ainda mais os homens na temática do cuidado
com a sua saúde.
Vocês, mulheres desafiem seus maridos,
filhos, seus pais, irmãos, tios, os homens em geral, para que estes também
cuidem de sua saúde. Eu também já fui bastante relaxado quanto a questão do
cuidado com a saúde, mas alguns episódios que testemunhei na minha prática
pastoral me fizeram repensar meu relaxamento.
Se me der um AVC (Acidente Vascular Cerebral)
e eu morrer instantaneamente, isso não constitui um problema tão grande. Mas o
problema é quando uma pessoa tem uma doença (câncer, avc) por puro relaxo e
acaba ficando acamado por anos, às vezes. E, assim, passa a depender de
cuidados familiares, que, na maioria das vezes, são assumidos por mulheres.
Isso me fez pensar o quanto é precioso o
cuidado com a vida, com a minha saúde. Não adianta a gente culpar Deus quando
acontece algo que poderíamos ter evitado. Existe um provérbio, que talvez soe
meio forte para nós, mas penso que ele nos faz pensar: “Deus move céus e terra
para aquilo que é impossível ao ser humano, mas não move uma palha naquilo que
nós seres humanos podemos resolver”.
Ter vida
em abundância depende muito de como nós vivemos a nossa vida. Da mesma
forma como cuidamos o que levamos para dentro de nossa casa, como cuidamos do
nosso carro ou moto, com muito mais empenho temos de cuidar da nossa saúde
corporal e também psíquica. Muitas vezes, cuidamos com o que nos alimentamos,
cuidamos da saúde física, mas não cuidamos da saúde mental. Carregamos mágoas,
pensamentos de ódio, raiva, rancor, somos pessoas ranzinzas e conscientizar-nos
do mal que isso gera em nós também faz parte de procurar viver uma vida em abundância.
Diria que, às vezes, vale a pena dar uma
bronca, ser chato com alguém que é desleixado/a com o cuidado de sua saúde. Vale
a pena quebrar-os-pratos com uma amiga, um parente para que pare e pense e
decida cuidar de sua saúde.
Participe de algum grupo - seja ele religioso
cristão, budista, islamita, de matriz africana -, cultive uma fé, pois a fé irá
ajudar em muitos momentos da vida a carregar, superar momentos difíceis que a
vida nos impõem. Lutar contra um câncer sem ter a fé como parceira, será - com
toda a certeza - muito mais difícil. Isso é a minha opinião, mas quem sou eu
para dar uma receita para enfrentar o câncer, pois nunca enfrentei esta doença
e assim espero nunca precisar enfrentá-la. Mas, se algum dia precisar enfrentar
o câncer, quero enfrentá-lo, tendo o criador do universo, a fé no Deus do
impossível e da vida em abundância,
como parceiros de luta. Quero que façam sentido as palavras do Salmista: “Ainda
que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu
estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam”. Sl 23.4.
Que o Deus da infinita bondade, ajude-nos a
termos e promovermos vida em abundância.
Amém!
Jonas Krause, pastor da IECLB na Paróquia
Evangélica de Tapejara.
Palavra proferida no Centro Cultural de Tapejara
em celebração ecumênica solene pelo Outubro Rosa/2015. Tapejara/RS,
31/10/2015